domingo, abril 10, 2005

Nossas Marias Cheias de Graça


"Baseado em 1000 fatos reais" Posted by Hello

A cabeça chegou queimando agora do cinema. Pensei em correr com os estudos ou ler os jornais e deixar para amanhã o comentário sobre o Maria Cheia de Graça.
Só que não dá. O coração parou de bater forte só agora e escrever amanhã talvez esfrie demais as idéias.
A semana foi de árduos estudos sobre as teorias de desenvolvimento e - entre estruturalistas, neoclássicos, algumas trocas de email com o Maurício e as lembranças de todas as calorosas discussões que tive com o meu professor de economia - acabei chegando à conclusão de que é muito mais fácil entender o mundo pela visão dos neoclássicos. É fácil entender que um governo deve gastar menos (ou o mesmo) do que arrecada. É fácil entender que altas taxas de juros servem para controlar a inflação e também atraem capital financeiro.
Mas é difícil entender imediatamente os heterodoxos. Sabe-se que para criar emprego, para passar a exportar conhecimento ou produtos com valor agregado é preciso investimento. Mas como? Talvez a dificuldade em entender os estruturalistas esteja no fato de que as tentativas de se aplicar tais teorias no Brasil tenham sido desastrosas. O aumento absurdo da dívida externa e da desigualdade de renda durante os anos de industrialização por substituição de importações e toda a memória (ainda recente) de Zélia Cardoso de Melo e do Plano Collor.
Todo esse bla, bla, bla aí de cima para dizer que Maria Cheia de Graça é um filme sobre um continente que não tem trabalho. Que não tem trabalho talvez porque em geral seja um continente que ainda não aprendeu como gerar emprego e principalmente como dividir a renda. Um continente de pessoas que se acostumaram ao subemprego porque não há outra saída. Pode-se engolir 60 cápsulas de cocaína e tentar chegar aos EUA. Mas não são todas as Marias que conhecem um motoqueiro chamado Franklin e que têm essa coragem.
Antes do cinema - e depois de um concerto maravilhoso - fomos almoçar e o garçom que nos atendeu era brasileiro. Como um bom conterrâneo, acabou sentando com a gente (com uma pilha de pratos na sua frente) e continuou o papo. Perguntou o que fazíamos em Londres e quando quis saber onde a Tati trabalhava, a resposta:
- Trabalho ali na Shell - disse a Tati, evitando falar que era advogada da empresa e mantendo a sua tradicional simplicidade.
- A Shell tem posto aqui? - perguntou o rapaz.
Duas histórias de um continente que se acostumou à falta de oportunidades. Que sabe que o seu lugar é no subemprego. Que aprendeu na marra a ter jogo de cintura para sobreviver.
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